11 de jun. de 2014

Uma BRochada mundial...


(por Victor Neves)

a Luís Carlos “SCopa” e Manú “Não Vai Ter Cuíca”

“Macaco velho não põe a mão em cumbuca”. Não tenho certeza se o problema é que não sou velho (sim, deve ser isso!), ou se é só simples teimosia... O fato é que eu, seguindo o sempre bom exemplo da presidenta, decidi escrever sobre o obrigatório “assunto do momento”.

Como me encontro, neste então, algo afastado do domicílio, seguirei a via prudente (eu, como todo comuna, sou prudente): não vou tentar falar do que não tô vivendo (afinal, só a experiência autoriza, não?), mas vou dividir um pouco com o leitor no Brasil as impressões da Copa aqui em Paris. Quem sabe se alguma coisa não complementa a outra, encaixa e vai que o texto serve...

A primeira coisa que me impressionou muito por aqui foi que não tenho visto muita gente festejando o início da Copa. Claro que eu não esperava uma festa com algazarras intermináveis, como a que vocês evidentemente estão fazendo por aí pelo nosso país do futebol... Afinal, eles aqui são mais contidos, respeitemos as diferenças. Mas, vem cá: pelo menos as ruas enfeitadas, os carros com bandeirinhas coladas e as paredes grafitadas com o desenho dos jogadores e frases pra empolgar, isso eu achava que ia ver!

Pra ser justo, vi um momento Copa outro dia, sim: umas crianças lá do prédio, e foi até bonito... Francesinhas, branquinhas, elas jogavam bola na chuva, uniforme tricolor arrumadinho, com os nomes tradicionais de uns jogadores franceses tipo Pogba, Benzema, Sakho e Mavuba (cada sobrenome complicado que têm esses franceses, hein?). Vendo aquela pelada “à la française”, quase me emocionei quando veio a lembrança de que estou num país onde a luta pela inclusão e contra todas as formas de violência e preconceito foi vencida – mesmo com esses sobrenomes complicados dessa gente. E me emociono de novo quando me dou conta de que estamos em plena batalha pra chegar a este importante patamar no Brasil, com nossos sobrenomes simples e democráticos, e o legado da Copa vem justamente pra... Mas não, hoje eu só falo da França.

Pois então... Lá em casa, o senhor de 75 anos que mora comigo comentava essa semana que estava um pouco decepcionado. Ele me dizia que nas Copas anteriores, o evento era motivo de satisfação, de alegria e de orgulho. Que a seleção, quando ele era menino, era considerada assim uma coisa meio sagrada sabe? Representava a nacionalidade, e estava acima de governos, de partidos e de interesses de qualquer grupo. Que o povo francês amava sua seleção...

Ele não sabe dizer muito bem o que aconteceu. Diferente da cerejeira lá do pátio, que ele adora e que todo ano dá igual no verão, o povo francês parece que não tá mais tão empolgado... Apesar de continuar amando o futebol (e fazendo piadinhas infames sobre o 3x0 mais de 10 anos depois, para minha grande aporrinhação), parece que alguma coisa não tá dando aquela liga de antigamente.

Bem... Mas eu sou brasileiro, então longe de mim tentar explicar o que andei vendo por aqui... Afinal, no meu país a coisa é outra, e a alegria é a prova dos nove. Certo?
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PS: poeminha sobre o assunto, de destacado autor tão contemporâneo. Ouvi dizer que tava pela França quando escreveu. Êita mundo pequeno, sô...

Foi-se a Copa
(Carlos Drummond de Andrade)

Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.
Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.
O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.
(Publicado no Jornal do Brasil de 24 de Junho de 1978)