15 de mar. de 2014

Nos dias que correm

(por Victor Neves)

A coluna desta semana vem num tom um pouco diferente das anteriores. Antes de mais: não, o motivo não é uma bronca dos redatores da página pedindo a diminuição do tamanho para “atender ao perfil do nosso leitor”. Antes fosse... O motivo é que a vida, bonita e bonita como ela é (e viva o Gonzaguinha pra nos lembrar disso...), nos obriga aos temas a partir da sua andadura. Andou pra lá, é carnaval. Andou pra cá, é... Pois bem, vamos juntos ver o que é.

Em 2013, alguns meses antes de “o gigante acordar” no Brasil, um grupo se reivindicando neonazista colou cartazes no prédio onde fica a sede do meu partido, o PCB - o mesmo prédio onde também está a sede do PSTU. Os cartazes, muito amigáveis e civilizados, esbravejavam algo como que “comunista bom é comunista morto” e que abandonássemos a região sob pena de agressões.

Em junho daquele ano, o “gigante” acorda meio de mau humor e, muito nervoso com o despertador, expulsa boa parte da esquerda (partidos e movimentos sociais) de um grande ato na Presidente Vargas...

Mas por que diabos requentar essa pauta?

Porque semana passada, no dia 12 de março – apenas quatro dias depois do Dia Internacional da Mulher – aconteceu algo que simplesmente não pode acontecer. Com a palavra, os estudantes da UFF: “Duas estudantes da Universidade foram alvo de mais uma tentativa de estupro em frente ao bandejão, agredidas e intimidadas uma delas pelo simples fato de ser comunista e estar com o broche de sua organização política! O agressor esbravejou ofensas anticomunistas, machistas, intolerantes, além de defender a superioridade da raça ariana em pleno século XXI”.

O inaceitável se combina com o inadmissível: alegando desprezo pela posição política das camaradas, um homem se sente autorizado a agredi-las sexualmente. Toda forma expressa um conteúdo: aqui, a forma – a agressão sexual – expressa o conteúdo de uma visão de mundo que internaliza o tratamento dos seres humanos como coisas, como mero meio para a consecução de fins alheios a sua vontade. E, neste caso, como objeto pra canalizar o extravasamento de impulsos irracionais. “Se for mulher então, melhor” – o senso comum, desconhecendo a História, acha que são frágeis, e portanto o covarde se sente mais seguro.

Neste caso específico, mais uma vez a vida mostra os limites do velho e bom senso comum: um grupo de mulheres se reuniu, impediu que o agressor fugisse e garantiu que deva responder pelo que fez diante da sociedade. E é aí que entramos nós (obviamente, me dirijo àquelas e àqueles que sacaram que não, que a polícia e o judiciário não são “a sociedade”): a hora é de prestar toda a solidariedade às companheiras agredidas em Niterói semana passada.

Hora de mostrar que não: que nós não vamos engolir o crescimento da irracionalidade, do conservadorismo e do machismo, nem na UFF, nem em lugar nenhum. Que nós, com a pureza da resposta das crianças, vamos continuar fazendo a vida ser bonita, pra todxs nós, e do jeito que a gente quer.